De beliche em beliche

por Mayara Abreu Mendes*

Se tem uma coisa que preocupa todo viajante é sua futura hospedagem. Não importa se é a casa de um amigo, um parente distante, uma família hospedeira ou qualquer outro local que você possa ficar durante sua estadia fora de casa, a pergunta que nunca calará é: como vai ser essa experiência?

Para quem vai visitar ou ficar por um bom tempo em apenas uma cidade é difícil de imaginar, quem dirá para os famosos mochileiros, que viajam por diversos países, ou para aqueles que têm uma breve viagem para outra localidade. Atualmente, pensando nesses exemplos e em outras tantas situações relacionadas à viagem, o mundo vem considerando hostels (ou, no português claro, albergues) como a melhor opção de hospedaria.

Mas o que é um hostel? Diferente de um hotel, uma pousada ou a casa de alguém conhecido, é a forma de acomodação que proporciona o maior convívio com pessoas desconhecidas e provenientes das mais diversas partes da Terra. De acordo com o proprietário do Hostel Jardim São Paulo, no bairro do Tatuapé de São Paulo, os albergues são a melhor opção por causa de “interação entre hóspedes e funcionários, enriquecimento cultural e a sensação de estar em casa”.

Quer seja para fora do país ou até mesmo em destinos curtos de uma cidade para outra, os hostels pelo mundo afora oferecem os melhores preços em acomodação que você pode encontrar. Pagando bem baratinho, você tem uma cama de um beliche com lençóis e cobertores limpos, uma toalha de banho que pode ser trocada e a oportunidade de conhecer pessoas do mundo inteiro dividindo um quarto (que pode ou não ser misto) com até quinze pessoas. Existem também os quartos com menos gente e até mesmo quartos privados para uma ou duas pessoas, que custam um pouco a mais que os compartilhados, mas ainda assim saem mais barato que um hotel.

Além do preço, outro fator que influencia a escolha dos hostels é a localização. Normalmente, são prédios grandes (na maior parte das vezes, antigos) e em regiões de muita movimentação nas cidades, como centros urbanos ou pontos de referência. Ser bem localizado também é um meio de garantir transporte público na redondeza, o que ajuda ainda mais os viajantes a economizar e a garantir um meio de se locomover.

A maior parte dos albergues tem outras facilidades para oferecer, como uma cozinha comunitária, onde é possível guardar alimentos etiquetados em geladeiras e armários, além de poder usufruir dos utensílios para cozinhar sua própria comida; uma rede de Wi-Fi; armários para guardar os pertences dentro e fora do quarto, que geralmente exigem cadeados do hospedado; banheiros públicos e privados, dependendo do tipo de quarto; jogos para diversão conjunta e alguns contam com restaurantes a preços pequenos dentro ou em volta.

O staff é parte primordial dos hostels. Sem eles, os hóspedes não seriam nada. Para a rede de albergues Hostelling International – a HI –, ter uma boa equipe é mais do que essencial. A associação existe desde 1932 e são mais de 4.000 sedes espalhadas por mais de 90 países do mundo. Travis Brown, recepcionista no HI Toronto há um ano, está “no melhor trabalho que já teve na vida” e isso se deve ao grupo como um todo, uma vez que “o ambiente de trabalho é muito legal, todo mundo é tão único e interessante”. A viajante Suelen Bonete confirma dizendo que “existem várias [redes de albergue], mas esta [HI] nunca me decepcionou no quesito localização, limpeza e estrutura. A recepção sempre foi muito boa”.

Entretanto, nem tudo são flores. Os maiores dilemas de um albergue são a privacidade e a liberdade. Como os hóspedes acabam sendo desconhecidos uns aos outros, todo mundo acaba perdendo um pouco da sua liberdade para não privar o outro. As palavras do jornalista Felipe Mateus bem definem a situação: “É preciso um pouco de desprendimento. Se a pessoa não tiver problemas em compartilhar seu espaço com outras, vai aproveitar sem problemas”. Se não, tem (quase) sempre um quarto privado como opção.

A convivência com o desconhecido pode ser um problema, mas é claro que existe todo o lado bom de estar em um ambiente em que ninguém se conhece e todo mundo quer desbravar a cidade (às vezes, até o mundo!). A estudante Tiemi Matsumoto viajou sozinha pela Europa enquanto fazia intercâmbio na Ucrânia e acredita que “a vantagem é sempre conseguir fazer amizades desde que você dê um jeitinho de se enturmar com o pessoal. Todo mundo sempre está disposto a dividir experiências de outras viagens e também a ouvi-las”.

Os viajantes que chegam num dia e deixam o albergue no outro são muitos. Entretanto, está crescendo a estadia mais longa nesse tipo de acomodação. Há quem fique para trabalhar, para estudar ou até mesmo para ir atrás de uma casa para morar na cidade. Foi o que aconteceu com a relações públicas Natassia Yalmanian em Lyon, na França. “Estava chegando a um país novo onde não conhecia ninguém. Preferi optar pelo hostel, pois tinha a certeza que conheceria pessoas que estariam dispostas a sair e conhecer a cidade comigo”. Ela ficou no Auberge de Jeunesse de Vieux Lyon por 15 dias até achar lugar para morar.

Os albergues estão aí para mostrar que você pode fazer amizades do mundo inteiro e conhecer uma cidade nova gastando pouco da melhor forma possível. Que tal viver a experiência na sua próxima viagem?

*Mayara Abreu Mendes é colaboradora da Revista Lampião

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