Feitas umas para as outras

por Gabriel de Castro

Meias. Um tema peculiar, não? É inevitável, ao se pensar em meias, se pensar em uma só. O que é uma meia sozinha? Nada. A única utilidade da meia vem quando elas se combinam e se unem: formam um “casal” de meias.

O próprio nome já é sugestivo. Uma “meia” não é algo inteiro. Não faz sentido sozinha. Precisa de outra “meia” para se tornar “uma só”, para atingir seu objetivo enquanto protetora, a tal unidade.

Todo par de meias vem definido já de fábrica. Contudo, a meia, por ser fabricada em série, pode ter sua “meia gêmea” confundida por outra produzida no mesmo lote. Nós, porém, tratamos de dar unicidade às meias destinadas a formarem uma dupla: aquelas meias que estão sujas de terra por terem sido usadas no mesmo dia, aquelas que usamos para dormir.

No entanto, os percalços da vida tratam de separar os pares de meia. A tão perversa máquina de lavar roupa junta todas as meias e faz de tudo para nos confundir. É inevitável, então, que troquemos as meias. Quem nunca vestiu uma meia de um par e outra meia de outro?

Mas acontece que as meias são tão destinadas a formarem um “casal” que não conseguimos dissociar uma da outra. Logo dizemos: “Essa meia é daquele par!”.

Não que seja impossível utilizar meias de pares diferentes. A utilidade de se pegar meias diferentes é inegável. Intradutível, porém, é a sensação de se achar o par original de uma meia. Meias de pares diferentes podem ser usadas e são úteis, mas, quando se olha atentamente, elas não fazem sentido juntas. Parece que não estão em harmonia.

Porque as meias são assim. Foram feitas, desde sua fabricação, com o intuito de terem seus pares. As máquinas de lavar da vida podem tentar separá-las, mas, em algum momento, elas acabarão juntas novamente e tudo voltará a fazer sentido. Essas são as meias. Feitas umas para as outras, pois só assim fazem sentido.

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