A obesidade crônica mundial

obesidade

(Foto: Divulgação)

por Juan de Lima*

Houve um tempo em que uma das maiores preocupações da humanidade era a de erradicar a fome. Hoje em dia, o quadro está um pouco diferente. Não que a fome esteja erradicada: atualmente, ela costuma se encontrar mais presente em alguns determinados países e regiões, ou mesmo em algum bairro ou classe social específico, mas o que mais se apresenta hoje em dia é uma inversão pelas preocupações que houve anteriormente.

A maior oferta de alimentos, que muitas das vezes não são saudáveis, mostra que esse quadro se inverteu. Se antes a preocupação era a de acabar com a fome, hoje se teme que os problemas causados pela obesidade atinjam um grande contingente de pessoas, que passaram a ter um maior acesso a alimentos e, sobretudo, alimentos calóricos e com grande teor de gordura. Esse tipo de alimento colabora para que problemas de saúde específicos passem a estar mais presentes na vida da população. Esse é um problema sociológico que tem sido discutido amplamente pelos governos mundiais, pela indústria farmacêutica e pelas produtoras de alimentos.

Em um estudo recente, em que 187 países foram analisados, o Global Burden of Disease (com tradução literal de “Peso Global das Doenças”), maior estudo sobre a saúde realizado, nos mostra que a obesidade, antes a décima colocada no ranking de problemas de saúde, agora aparece em sexto lugar. Ao mesmo tempo, a expectativa de vida aumentou em praticamente todos os países do mundo; as mortes relacionadas com a falta de alimento caíram de 3,4 milhões de pessoas em 1990 para 1,4 milhão de pessoas em 2010; e, por fim, a subnutrição, doença que mais matava em 1990, agora se encontra na sétima posição da lista.

Em dezembro de 2012, a revista Carta Capital trouxe em sua edição, como matéria de capa, uma reportagem sobre a obesidade no mundo com o nome de “Um mundo cada vez mais gordo”, com conteúdo da revista americana The Economist. A reportagem trata do mesmo tema do estudo realizado em 2010 e mostra um panorama geral sobre o problema da obesidade, que assola a humanidade.

A principal causa atribuída ao alto número de obesos no mundo é a mudança drástica na alimentação das pessoas. Os indivíduos, desde que possuam dinheiro, podem se alimentar do que quiser e quanto quiser, o que acarreta em uma mudança biológica e estética do corpo, que acaba sendo influenciado pelo espírito de consumo. A maioria dessas pessoas que se alimenta preferencialmente pelos alimentos calóricos não tem em mente os malefícios que essa “dieta” pode causar, e pouco se preocupam com a realização de exercícios físicos. Nos Estados Unidos, onde o consumo de alimentos calóricos virou um hábito nacional, dois terços de toda a população já se encontra acima do peso, o que fez que essa rotina alimentar se tornasse característica do país e de seus habitantes.

Mas se engana quem acha que isso só acontece nos EUA. Os países europeus, na grande maioria já desenvolvidos, já sofrem com esse mal. No entanto, a obesidade não se restringe às terras desenvolvidas: o Global Burden of Disease mostra também, por exemplo, que 53% dos brasileiros estariam acima do peso já em 2008. Em números totais, cerca de 1,5 bilhão de adultos, equivalente a um terço da população adulta mundial, já cruzaram a “linha da obesidade” em 2008.

Ao mesmo tempo em que os obesos apresentam uma preocupação para os governos mundiais, que gasta para tratar os problemas de saúde que se originam pelo excesso de peso, a obesidade é uma oportunidade para muitos conglomerados industriais.

As cirurgias barátricas passaram a ser procuradas por grande parcela da população. No Brasil, o número de cirurgias que são realizadas é bem menor que a demanda da população. Nesse caso, o indivíduo, desde que tenha condições financeiras, irá movimentar o mercado de cirurgias estéticas, que aumenta a cada ano que passa. A indústria farmacêutica também se beneficia na medida em que apresenta soluções para esses problemas causados pelo excesso de peso.

O jornal O Estado de S. Paulo, no dia 10 de fevereiro desse ano, publicou uma matéria, em sua página online, que mostra um estudo realizado por nutricionistas do Instituto do Coração (InCor) e do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da USP em um mutirão da saúde realizado em São Paulo. O mutirão coletou dados de cerca de 15 mil pessoas e trouxe um alerta: 66,3% de todos os participantes estavam acima do seu peso ideal. Isso mostra a tendência mundial de aumento do peso da população.

Nesse empasse ficam os indivíduos, as empresas e os governos. Dentro da vida das pessoas, há uma maior oferta de alimentos e o hábito cada vez maior do sedentarismo. As empresas, por sua vez, sendentas em vender em escalas maiores, divulgam seus produtos, dizendo o quão saborosos eles são, mas ocultam o “lado sombrio” da história. Por fim, os governos se ocupam em buscar tratamentos dos problemas de saúde que envolvem a obesidade.

Esse assunto deveria ser motivo constante de discussão e reflexão por parte de nós, que sofremos direta e individualmente os males causados por uma má alimentação e que lidamos com problemas como a obesidade. Vale lembrar também que a obesidade enquanto aparência é o menor dos problemas da população. Uma dieta a base de junk food pode causar diversos problemas, como diabetes, enfarte, entre outros. Se passássemos a nos importar mais com o que de fato importa, deixando a “sede de comer mais e mais” de lado, deixaríamos também de alimentar tanto a indústria farmacêutica quanto a estética, que se beneficiam dos problemas causados pela obesidade.

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*Juan de Lima é colaborador da Revista Lampião

Cursando o segundo ano de Ciências Sociais pela UNESP, campus de Araraquara. Atualmente desenvolve uma pesquisa sobre as mudanças de sociabilidade causada pelas redes sociais com base na antropologia. Também possui interesse pela sociologia econômica. Na diversão, filmes clássicos e música. Muita música.

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