Resenha – “Clarice Falcão EP”, Clarice Falcão

por Gabriel de Castro

(Divulgação)

Um conjunto de notas simples e um ritmo que não tem nada de espetacular. Em meio a várias notas dó e lá menor, Clarice Falcão lançou seu primeiro EP, que é uma mistura de letras psicóticas e “bonitinhas”.

A voz doce de Clarice se mistura ora a um violão, ora a um ukelelé, dando quase sempre a impressão de uma daquelas letras melosas de amor. Mas é quando se presta atenção nas palavras que saem pela boca da pernambucana que você se espanta. Em meio a um arranjo mais do que simples, sem nenhum riff desbocado ou um dedilhado de enfeite. Não. Um violão “na lata” é tudo o que há de som de fundo em alguns momentos. É justamente esse “descasamento” entre som e sentido que torna o EP tão genial.

“Eu queria tanto que você não fugisse de mim,
mas se fosse eu, fugia”

Esse é um trecho da música “Macaé”, que está no EP. Em meio a um ritmo “alegre”, com notas maiores e passagens 2-5-1 (que é a sequência da segunda nota menor da escala, a quinta com sétima e a nota que dá o tom à música – no caso, os acordes passam de Bm para E7 e depois A), a letra fala de uma pessoa obsessiva e apaixonada, que beira a loucura.

Outra música com a mesma falta de sintonia entre harmonia e letra é “Oitavo Andar”. Clarice consegue fazer uma música sobre dois corpos estirados numa calçada após uma queda do oitavo andar soar como uma música de amor.

As rimas inesperadas e as letras que fogem ao “senso musical comum”, se assim se pode dizer, também são encontradas em “De todos os loucos do mundo” e “Monomania”. Essas duas últimas, no entanto, contém uma maior sincronia harmonia-letra.

Para quem não conhece, Clarice Falcão já fez participações em novelas da Globo, fez trilhas para filmes como “Lisbela”, e é integrante do canal de humor “Porta dos Fundos”.

Confira a música “De todos os loucos do mundo”:

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