Resenha – “A Esquerda que não teme dizer seu nome”, Vladimir Safatle

por Rafael Barizan

(Foto: Divulgação)

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Vladimir Safatle busca em seu livro definir qual seria o papel da esquerda em um mundo no qual não se cansa de afirmar pretensamente que o pensamento de esquerda está morto. Para isso define quais seriam os pilares fundamentais que ela deveria defender, isto é, o que seria inegociável de seu ponto de vista. Seriam eles: a defesa radical do igualitarismo, da soberania popular e do direito à resistência

O autor rechaça as teses de esquerda que se preocupam com a defesa de grupos minoritários, pois ao se proceder de tal forma não se está lutando pela igualda de uma sociedade, mas por grupos específicos que são vistos como intrinsecamente diferentes. Essa abordagem leva a uma transformação do conflito social em conflito cultural e é, em geral, utilizada a posteriori pela direita para sustentar a exclusão de grupos minoritários. Um verdadeiro choque de civilizações que nada mais é do que um clássico conflito de classes e espoliação. Propõe que uma sociedade seja verdadeiramente multicultural deve ser radicalmente universalista e indiferente às diferenças.

Lembra-nos que o direito à resistência é fundamental para a construção de um povo. Sabe-se que muitas vezes a Justiça se dissocia do Direito e, nesses momentos, toda resistência contra um estado ilegal se torna legal. Politicamente esse direito também se manifesta por uma luta pela maior participação popular. Isto é, por um maior poder popular garantido pelos plebiscitos. Diz-nos que o modelo de representatividade parlamentar não é necessariamente democrático e propões a assunção das tomadas de decisões de relevo pela população por meio do plebiscito – instrumento democrático por excelência -.

Critica, por fim, a imobilidade da esquerda que discute formas de chegar ao poder. Como solução desse problema propõe a defesa de uma substantiva sequência de reformas, que garantem um salto qualitativo que não se perde e é mudança muito mais efetiva, pois está ao alcance de nossas mãos e não em um imaginário revolucionário.

A leitura agradável e fluida, bem como a síntese precisa tornam o livro altamente recomendável. A exposição de propostas e a construção de um pensamento de esquerda genuíno que pensa na realidade e não em discussões infrutíferas tornam o livro ainda mais necessário, especialmente em um momento no qual o pensamento de esquerda tanto sofre assolado pelo quase monopólio do pensamento conservador.

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